O BREVE RELATO DO HOMEM QUE CAIU NO MUNDO, E QUE, CLANDESTINAMENTE, DESEMBARCOU EM UMA TERRA ONDE O CÉU NÃO ERA TÃO AZULADO

acreditava que céus azuis me trariam dias profundamente azuis

[chove]

clandestino, me veio um inverno

[é evidente que em mim não há mais céus azuis]

passei então a ler as mãos das nuvens,

e a procurar, sem dó nem piedade, o cinzar que me restou de felicidade

[é de dar inveja a qualquer céu azul!]

dei a aprender a lenhar madeiras para as lareiras de outono

e a beijar mulheres mesmo no frio

[clandestino, nenhum verão]

eis que quando, enfim, uma mulher vinda de dias nublados,

chegada para acalmar-me a chama,

me faz descrer que céus azuis me trariam dias profundamente azuis

[cercam-me dias azulados!]

ainda chove.