Sou,
Negro desta África branca e ruidosa.
Negro no sangue, na cor, na dor e alma.
A fome é estúpida. Mas tenha calma,
A vida aqui é lama vil e jocosa.
Grito, mas o meu desespero é mudo.
Às vezes choro, aí vou na contramão.
Este é mesmo o submundo do deus cão.
Ainda bem que sou um idiota surdo.
Não escuto. Me calo ante seu lamento
Nas noites mundanas e solitárias.
Sou apenas um engodo, um excremento,
Deste demônio, chamado vaidade.
Sou um anjo de roupas mortuárias,
Sou um nada, desta crua realidade.