Sou,

Negro desta África branca e ruidosa.

Negro no sangue, na cor, na dor e alma.

A fome é estúpida. Mas tenha calma,

A vida aqui é lama vil e jocosa.

Grito, mas o meu desespero é mudo.

Às vezes choro, aí vou na contramão.

Este é mesmo o submundo do deus cão.

Ainda bem que sou um idiota surdo.

Não escuto. Me calo ante seu lamento

Nas noites mundanas e solitárias.

Sou apenas um engodo, um excremento,

Deste demônio, chamado vaidade.

Sou um anjo de roupas mortuárias,

Sou um nada, desta crua realidade.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 12/05/2006
Código do texto: T154744
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