ESPELHO D´ÁGUA (Cena de uma noite de luar em uma lagoa às margens do São Francisco)

No lago hospedeiro da noite

A aia começa a labuta

Ata as abas do lençol escuro

Sarta estrelas cintilantes

Ponto a ponto com destreza

Invejada pela bordadeira impar

Da mãe natureza

Ansiosa fica, como a velha serva

Da chegada da ama sinhá

Em jogo de esconde-esconde

Brinca com as nuvens passageiras

De repente aparece e resplandece

Com toda a perfeição divina.

Deleita com o berço macio

Sorrindo em prece agradece

À ama e ao criado oferecido.

Acordada sinhá ama

Faz de conta, dorme acordada

A moldura balanceia

O beija-flor sedento

Beija o berço ainda feito

Todo listado de ouro.

Não se vê sinhá, vê sinhô

Que aparece e resplandece

Com toda a perfeição divina

Alegrando a passarada

Saudando a mãe natureza

O espelho, espelho não

Moldurado de madeira seca

Ás vezes no quarto

Outras vezes na cristaleira

Carrasco da menina feia

Mensageiro hipócrita

Não espelha a verdade perfeita

Não me espelho no espelho

No espelho d´água, espelho sim.

... E você?

Vilson Caraíbas
Enviado por Vilson Caraíbas em 19/04/2009
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