ESPELHO D´ÁGUA (Cena de uma noite de luar em uma lagoa às margens do São Francisco)
No lago hospedeiro da noite
A aia começa a labuta
Ata as abas do lençol escuro
Sarta estrelas cintilantes
Ponto a ponto com destreza
Invejada pela bordadeira impar
Da mãe natureza
Ansiosa fica, como a velha serva
Da chegada da ama sinhá
Em jogo de esconde-esconde
Brinca com as nuvens passageiras
De repente aparece e resplandece
Com toda a perfeição divina.
Deleita com o berço macio
Sorrindo em prece agradece
À ama e ao criado oferecido.
Acordada sinhá ama
Faz de conta, dorme acordada
A moldura balanceia
O beija-flor sedento
Beija o berço ainda feito
Todo listado de ouro.
Não se vê sinhá, vê sinhô
Que aparece e resplandece
Com toda a perfeição divina
Alegrando a passarada
Saudando a mãe natureza
O espelho, espelho não
Moldurado de madeira seca
Ás vezes no quarto
Outras vezes na cristaleira
Carrasco da menina feia
Mensageiro hipócrita
Não espelha a verdade perfeita
Não me espelho no espelho
No espelho d´água, espelho sim.
... E você?