Rendição (ou um lembrete)

Rendo-me ao fluxo líquido e revigorante do rio que brota dos seus lábios

Aos hieróglifos labirínticos que se formam nos vãos da sua boca

Onde meus olhos se perdem, se prendem, se deixam ficar.

Rendo-me ao odor sulfuroso já típico depois da despedida

Ao seu perfume que se gruda a minha pele como uma casca

Indescascável, indecifrável. Um pedaço desconhecido de mim

Rendo-me às suas palavras nem sempre tão doces, nem sempre tão amargas

Nem sempre tão dóceis.

Que imploram que eu me não renda, mas me atam

Ao seu ser, misterioso até a última interpretação de cada vogal

Rendo-me ao seu olhar, hialino e ingênuo, que me reflete

E guarda meu reflexo aprisionado em sua pupila

Como em uma cela, condenado ao suplício eterno

Rendo-me ao seu sorriso, arrepiante. Eterno, nos meus olhos.

Àquele som quase nulo que seu corpo deixa soar

Complementando sua expressão mais sóbria, mais humana

Rendo-me ao seu corpo, finalmente,

A sua pele que me queima as mãos

Ao seu beijo que penetra pelos meus poros

E congela minha garganta.

E pára meu peito.

Rendo-me a você.

E de amante, passo a só rendido.

A só escravo.

A só seu.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 19/04/2009
Código do texto: T1547158