Rendição (ou um lembrete)
Rendo-me ao fluxo líquido e revigorante do rio que brota dos seus lábios
Aos hieróglifos labirínticos que se formam nos vãos da sua boca
Onde meus olhos se perdem, se prendem, se deixam ficar.
Rendo-me ao odor sulfuroso já típico depois da despedida
Ao seu perfume que se gruda a minha pele como uma casca
Indescascável, indecifrável. Um pedaço desconhecido de mim
Rendo-me às suas palavras nem sempre tão doces, nem sempre tão amargas
Nem sempre tão dóceis.
Que imploram que eu me não renda, mas me atam
Ao seu ser, misterioso até a última interpretação de cada vogal
Rendo-me ao seu olhar, hialino e ingênuo, que me reflete
E guarda meu reflexo aprisionado em sua pupila
Como em uma cela, condenado ao suplício eterno
Rendo-me ao seu sorriso, arrepiante. Eterno, nos meus olhos.
Àquele som quase nulo que seu corpo deixa soar
Complementando sua expressão mais sóbria, mais humana
Rendo-me ao seu corpo, finalmente,
A sua pele que me queima as mãos
Ao seu beijo que penetra pelos meus poros
E congela minha garganta.
E pára meu peito.
Rendo-me a você.
E de amante, passo a só rendido.
A só escravo.
A só seu.