NÁUFRAGO DO TEMPO

Ah, que bom seria se o tempo voltasse!...

Certamente com ele voltariam

muitas coisas boas da minha infância:

meu primeiro brinquedo;

meus amigos e as saudáveis traquinagens

que juntos aprontávamos;

minha professorinha de matemática

que, ao aproximar-se de mim,

deixava meu coração a mil,

acelerado, palpitando apaixonadamente;

meu primeiro beijo, sutilmente roubado

daquela que mais tarde seria

a primeira paixão correspondida...

Ah, que bom seria se o tempo voltasse!...

E com ele meus sonhos pueris,

minhas fantasias de menino,

meus desejos de criança,

meus anseios infantis,

os quais, juntos à vontade de ser adulto,

navegavam sobre as águas turvas

das enxurradas vespertinas

dentro de um barquinho de papel

que, de acordo com minhas fantasias,

variava de forma e tamanho:

algumas vezes era um luxuoso iate;

em outras, uma antiga caravela...

às vezes, um navio porta-sonhos;

ou ainda um Titanic de celulose

naufragado no tempo.

Tempo que não volta mais...

Joésio Menezes
Enviado por Joésio Menezes em 14/04/2009
Reeditado em 18/10/2024
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