NÁUFRAGO DO TEMPO
Ah, que bom seria se o tempo voltasse!...
Certamente com ele voltariam
muitas coisas boas da minha infância:
meu primeiro brinquedo;
meus amigos e as saudáveis traquinagens
que juntos aprontávamos;
minha professorinha de matemática
que, ao aproximar-se de mim,
deixava meu coração a mil,
acelerado, palpitando apaixonadamente;
meu primeiro beijo, sutilmente roubado
daquela que mais tarde seria
a primeira paixão correspondida...
Ah, que bom seria se o tempo voltasse!...
E com ele meus sonhos pueris,
minhas fantasias de menino,
meus desejos de criança,
meus anseios infantis,
os quais, juntos à vontade de ser adulto,
navegavam sobre as águas turvas
das enxurradas vespertinas
dentro de um barquinho de papel
que, de acordo com minhas fantasias,
variava de forma e tamanho:
algumas vezes era um luxuoso iate;
em outras, uma antiga caravela...
às vezes, um navio porta-sonhos;
ou ainda um Titanic de celulose
naufragado no tempo.
Tempo que não volta mais...