Pretensão

Sentei-me aqui, agora,

Para escrever um poema.

Mas queria que fosse diferente.

Diferente de tudo que eu já houvesse escrito.

E por pouco este não vira uma prosa.

Comecei eliminado os lugares comuns.

Mas estes são recorrentes.

Depois tentei eliminar as pessoas comuns.

Mas estes são os que realmente compreendem a vida.

Por fim, tentei alguma erudição.

Mas não queria um tratado científico.

Sobrou o que? Apenas o óbvio,

Que está sempre estapeando nossa face,

Como que dizendo:

Um poema se faz de alguns gatos pingados,

da frugalidade gramática,

e de uns pedacinhos de vida.

De imediato não achei interessante.

Eu, sempre dado a gestos trágicos,

Senti dificuldade de me controlar.

Não consegui controlar nem mesmo,

O tempo verbal do início do poema.

Então aqui vou eu. Tentando.

Tramando poemas minimalistas,

que convivem bem com gregos e modernos.

Ou com nenhum dos dois. Paciência...

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 09/05/2006
Código do texto: T153109