Carta Suicida I
A busca do seu
Eu interior
não necessita palavras.
Portanto, cala-te na hora
que se anuncia (!);
Viva o espaço e tempo
que a ti prouver.
No murmúrio
e no sussurro
das gotículas resplandecentes,
mira-te a ti mesmo
e lava as lágrimas de saudade.
Digo a mim, que é você.
Não me vou
só por tristeza.
Não anoiteço
só por cansaço.
Só porque estou só,
não quer dizer
que sou tão só.
Sou tranquilo e estranho, agora.
Estou pronto para a viagem,
sem escalas e sem volta.
A Drummond dedico
a última carta suicida.
À família, minhas dores,
que perdurarão por alguns segundos;
depois é só passado.
Aos amigos, hei de estar
esperando laços nossos,
vícios novos.
Aos amores digo apenas
canções melosas
do instante em que se apaixona.
Vou feliz.
Com Dionísio estarei
em campos de negras rosas,
transparentes e tão sãs
quanto as verdades que verei.
Cristo, então, me espera
no seio inchado de Maria.
Embriaguemo-nos com tal néctar,
a discursar sandices
sobre o Kharma.
É a boa hora;
a última hora.
Sem erros ou acertos,
como a última página do livro,
que nem sempre responde,
mas permite ir mais além.