Vespertino

Sinto-me tão disperso da verdadeira forma

Os retratos antigos não carregam meu rosto

Carregam o desgosto de ver o que me tornei

A minha face úmida de água morna

Vê-se no espelho com o espanto posto

De quem queria apenas salvar o mundo

E nem a si,nem a mim, salvei

Sinto-me descargo de viver o escarro da minha vida

A minha alma que já virou espirito se atira ao infinito

Pra procurar um corpo com um crânio bem melhór

Ao Pai peço que carrega-me sem lenços de despedida

Deste inferno, deste mundo, deste pretérito labirinto

Para um lugar que seja bem melhór

Sinto-me pronto pra partir

Ao longo do caminho, tão sozinho

Como sempre quase sempre estive

Vou embora sem olhar pra trás

Nossos velhos, tão velhos espinhos

Aos quais não me detetive

São apenas modestos vendavais

Ao longo da estrada de areia

Carregando a mala cheia de tristeza

Procuro olhar pro futuro

Quando a mosca foge da teia

Encontra em sua fraqueza

A destreza de um novo mundo

Sinto-me pronto pra partir

Guilherme Sodré
Enviado por Guilherme Sodré em 08/04/2009
Reeditado em 08/01/2017
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