Sonhos

a natureza morta de suas palavras

não abafa os gemidos desvalidos do meu peito,

que ora respira com incomum trejeito

as horas caminham no mesmo sentido

como um rio que corre paralelo às veias,

artérias que me levam ao mundo perdido

me tenho como um pêndulo agarrado as teias,

aranha negra e peçonhenta, cavalga meu corpo

ora entre os pés, ora roçando minha boca

no espelho, nossos corpos se desfazem

em movimentos às vezes vulgares

para meus olhos, por demais, desatentos

penso que vou me queimar com o calor do afago,

com o perfume de suas pétalas carnais

abertas em dois cotilédones – vermelhos – labiais

oh flor de infinitos perfumes

não permita que eu sofra tanto

não deixe que eu me mate antes do último gozo

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 08/05/2006
Código do texto: T152382
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