Sonhos
a natureza morta de suas palavras
não abafa os gemidos desvalidos do meu peito,
que ora respira com incomum trejeito
as horas caminham no mesmo sentido
como um rio que corre paralelo às veias,
artérias que me levam ao mundo perdido
me tenho como um pêndulo agarrado as teias,
aranha negra e peçonhenta, cavalga meu corpo
ora entre os pés, ora roçando minha boca
no espelho, nossos corpos se desfazem
em movimentos às vezes vulgares
para meus olhos, por demais, desatentos
penso que vou me queimar com o calor do afago,
com o perfume de suas pétalas carnais
abertas em dois cotilédones – vermelhos – labiais
oh flor de infinitos perfumes
não permita que eu sofra tanto
não deixe que eu me mate antes do último gozo