"INVEJA" Poema de: Flávio Cavalcante
“inveja”
Poema
De
Flávio Cavalcante.
Alma doentia, olhos anafados;
Demente sem dor, mas sofrido
Que guarda rancor, na esfera da pele;
No olhar ínvido de um mundo desconhecido e
Grunado; a inveja cavando o próprio túmulo; deitado no interior
De um caixão, com febre interna e intensa, que queima o invólucro da casca
Do ovo, eclodindo um verme, destruindo outro ser
Sem nenhum sentimento, vira corpo em putrefação
Derretendo e destruindo a si próprio, transforma-se
Em lamaçal e lavagem; os pés encaliçados me pisam
E estalam toda minha espinha dorsal; subindo um odor imenso,
Como putrefatos de feridas descobertas e cascarras;
Porcos imundos se alimentam de mim, me rasgando;
Deixando os restos mortais expostos sobre o sol causticante,
Que me conflagra ardentemente, que calor imenso... Por que grito e
Ninguém ouve os meus apavorados gritos?
Ai, como sofro e por que sofro?
Já não tenho mais voz; minhas forças se
Esgotaram e não consigo nem respirar;
Mas enquanto souber que eu existo, mesmo nesse lamaçal,
Não paro de falar, mesmo com dificuldade e em solfejo;
Desejando tirar de ti, o que eu nunca tive competência de construir;
E guardo dentro de um peito dilacerado, que se derrama no lamaçal,
Uma esperança viva, que por certo um dia alguém há de me ouvir e aí devolverei tudo,
E matarei a causadora de tudo isto que estou passando...
em conseqüência da “inveja”