RUA LARANJEIRAS

A Rua Laranjeiras

Desce alegremente

Vai ligeira

Banha-se nas águas do rio

A Rua Laranjeiras

Sobe a ladeira em seu cansaço noturno

O olhar da madrugada é frio

A Rua Laranjeiras

Vê o verão virar inverno

Almas penadas se esgueiram nas janelas

Escoram-se nas paredes

Deitam-se nas calçadas

Velhas histórias alquebradas

De casais e de eternos amores findos

Inadequados

Lindos

Revoada de astros

Abre, Pai, as portas da eternidade

Do nada

A Rua Laranjeiras vestida de festas

Fugitiva, mora num quadro

Passam pássaros passados

Pousam nos muros

Nos beirais

As horas escoam a manhã

Nas tardes esbraseadas

Acinzentam o poente

A Rua Laranjeiras inocente

Acolhe ladrões e pecadoras

A rua lamenta

O naufrágio do pescador

A Rua Laranjeiras está mudada

Veste outras roupas

Fala novas linguagens

Só fachada

Nos quintais

Lenços batem as asas

Coreografando nos varais

Enxugando lágrimas dos mortos

Cenas antigas de nascimentos

Noivados

Casamentos

Passamentos

Cantigas