Evocação
Minhas mãos não te alcançam
Meus pés desencontram seu rastro
Meus olhos não cruzam sua vista
Meu ser necessita beber dessa fonte
Olhas e não me vês
Não sente minha alma arder
Meu espírito em prantos
Meu ser tremer.
Como chegar a ti?
Oh, anjo da dor!
Tenho-te e não conheces
Tens-me e não acordastes.
Traz-me uma certeza,
Verdade intrigante
Uma clarividência recôndita.
Numa vil fortaleza.
Como alçar voo
Atingir tua mente
Tocar sua mão
Seguir teu passo?
Lançar-me no horizonte
Atravessar o monte,
Qual pássaro em gaiola,
Ir à nascente?
Qual sorte me abraça?
Anjo da noite feroz
Sonda-me, leva-me
Como criança no ventre.
Uma miudeza assola-me
Na nobreza do sentimento
Que não atinge seu ser
Que mortifica meus restos.
Que me torna brisa ardente
Poeira da tua estrada
Passagem fechada
Volúpia serena
Pés descalços
Criatura despida
Na realidade que ilude
No desvario de outros traços
De minha vida intocada.