Cadafalso
Degrau por degrau
Sobe o jovem ao cadafalso
Nos primeiros dois degraus
Ele nada pensa
Apenas sobe
E sente o peso da própria carga
Como se fosse este seu ultimo dia
Nada venturoso lhe passa pela mente
E mesmo nada desventuroso tampouco passa
São apenas dez metros até seu carrasco
Nitidamente ele sente a distância
Como se fosse este seu ultimo dia
È uma praça
Cheia de gente, de cheiros
Ele não tem consciência exata
Se o olham
Ou se apenas o vêem
Ou se apenas esperam para ver
Como se fosse este seu ultimo dia
Dá mais dois passos
Em direção à inevitável
Mas ainda não ameaçadora
Corda preparada
Não ainda tão ameaçadora
Como se este não fosse seu ultimo dia
Ele não sabe
Mas do outro lado da praça
Uma jovem mulher
De olhos fugidios e loiros cabelos
O olha pesarosa
Como se fosse seu último dia
Ele não sabe
Mas a apenas a dez metros
Dos olhos fugidios
Um homem muito forte pede uma bebida
E olha divertido
Para o jovem no cadafalso
Como se fosse um dos seus primeiros dias
Ele dá mais dois passos
E subitamente se recorda
Inopinadamente
De promessa feita
À uma jovem mulher de negros cabelos
Como se fosse dela o ultimo dia
Então vislumbra
A corda à sua espera
Toscamente derivada
De um cavalete disforme
Como se pudesse ser assim tão sem ambição
Já que era seu ultimo dia
Ele não sabe
Mas o homem forte da bebida
Gira sobre si
E vê a loira moça
Dos fugidios
Olhos pesarosos
Como se do jovem no cadafalso
Fosse o ultimo dia
Ele dá mais dois passos
E vê os contornos
Da corda preparada
E acintosa como toda
Corda,
Em seu trabalho
É .
Não pode deixar de comparar
A grossura da corda
Com seu pescoço
E suspirar pela injustiça
Ele não sabe
Mas a fugidia loira de olhos fixos
Suspira ao mesmo tempo que ele
Pousada na injustiça
Da desproporção da morte
Para tão jovem homem
No cadafalso
Chega ele então ao exato
Lugar onde será levado
Onde a corda
Preparada
Há de lhe mostrar serviço
Como se fosse dela
O trabalho do ultimo dia
Ele sequer repara
Na sombra do carrasco
Atenção não lhe dá
Nem ouvidos
Nem nada
Para embaixo da corda
Não olha para o cavalete
Nem para o carrasco
Mas pensa soberbo
Sobre certos direitos de vida
Neste seu ultimo dia
Ele não sabe
Mas o homem
E sua bebida
Caminham celeremente
Para a moça fugidia
Que ainda olha o cadafalso
Como se a ultima vez fosse
De um ultimo dia
Então por fim
Ele percebe a morte
Perfilada à sua frente
E toda a frieza dela
Ele não sabe
Mas o homem acaba de chegar
Aos fugidios olhos
E eles se olham
Então ele perfaz os dois finais passos
Até ficar desconcertado
Sem graça embaixo
Do disforme cavalete
Da ameaça da corda
A preparada
E lhe vem uma certa revolta
Agora ela veio
Do porque será morto
E somente ai lhe aparece viva
A certeza da morte
E ele tomado da energia
Do ultimo dia
Brada a Deus
Antigo amigo
Porque me deres
A certeza da morte
E da opção inexorável
Entre o céu e inferno
Posto que a morte já veio
Mas não me deres
E nem a nenhuma
De suas crias
A revelação do quando
De suas mortes ?
Ele não sabe
Mas o homem da bebida
Se apresenta lânguido
À moça de olhos
Não mais tão fugidios
Quando a forca
O puxa para baixo
De primeiro ele vê nuvens
Depois uma intensa
Clareira de branca luz
E então ele sabe
Que a luz branca
Não é aquela
Que o salvaria para sempre
Ele não sabe
Mas a moça fugídia já não o vê
E nem o homem forte
O olha com prazer ou desdém
Eles se comprazem com a vida
E o jovem no cadafalso
Olha para si mesmo
E se compraz
Consigo mesmo
Sabendo
Que este é seu ultimo dia
A corda trabalha
Rápida
Eficiente
Conclusiva
E não deixa nada
Para trás, como pegadas
O ultimo pensamento
Do jovem no cadafalso
É intrínseco
E pessoal
E nunca
De fato
Saberemos o final
Tavianna