(H)ETÉREOS
Somos como éter e flor
Essências extremas
Peixes em piracemas
Nadando contra e a favor.
Em remansos, ocultados
Como peixes incolores
Caímos nos anzois iscados
Por nós próprios, pescadores.
Bem supridos nas enchentes
E caçadores em águas rasas
Chegamos a voar sem asas
Às cópulas mais atraentes.
Subimos saltos inteiros
Procurando novos amores
Quando martins-pescadores
Mergulham tão sorrateiros.
É, nadamos mares a esmo
Pensando estar seguros
E só nos damos em apuros
Quando fisgamos nós mesmos.
Amores hetéreos buscamos
Mas diferimos essências
Espelhamos nas aparências
Daí, o espelho quebramos.
Somos peixes de leitos lamosos
Nadando em águas cristalinas
A um palmo além das narinas
Armamos espinheis enganosos.
E vamos desviando aluviões
Nadando por lagos e rios
Fertilizando ovas de cios
Nos cardumes de ilusões.
Quando chegarmos ao mar
Fim da relativa distância
Descobrimos a importância
Por que águas vão a rolar.