(H)ETÉREOS

Somos como éter e flor

Essências extremas

Peixes em piracemas

Nadando contra e a favor.

Em remansos, ocultados

Como peixes incolores

Caímos nos anzois iscados

Por nós próprios, pescadores.

Bem supridos nas enchentes

E caçadores em águas rasas

Chegamos a voar sem asas

Às cópulas mais atraentes.

Subimos saltos inteiros

Procurando novos amores

Quando martins-pescadores

Mergulham tão sorrateiros.

É, nadamos mares a esmo

Pensando estar seguros

E só nos damos em apuros

Quando fisgamos nós mesmos.

Amores hetéreos buscamos

Mas diferimos essências

Espelhamos nas aparências

Daí, o espelho quebramos.

Somos peixes de leitos lamosos

Nadando em águas cristalinas

A um palmo além das narinas

Armamos espinheis enganosos.

E vamos desviando aluviões

Nadando por lagos e rios

Fertilizando ovas de cios

Nos cardumes de ilusões.

Quando chegarmos ao mar

Fim da relativa distância

Descobrimos a importância

Por que águas vão a rolar.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 03/04/2009
Código do texto: T1520535