Devaneios

Passeio os pincéis sobre uma tela de nuvens

O vento vazio, o sopro de nada

O dia morrendo nos braços da noite

A ilusão beijando os mortais

Enquanto o canto jaz num canto sóbrio

Sombrio e vago

E se desvanece nos passos ligeiros

Dos homens e seus sentidos

Seus motivos

Seus trabalhos

O cheiro de choro

O gosto amargo e salgado

Das desilusões

Os anos passam

cheios de mofo

E azia

Os carros na contramão

O avião que chega da Ásia

Trazendo consigo a escuridão

Chega

E adormece no devaneio

E a dor nasce no peito

E dorme

...

Mas eis que então

O sol vem do Japão

E nos acorda

Com seu defeito de fabricação

Seu incômodo defeito

De desfazer a noite

Desfazer a solidão

Sua mania inconcebível

De ruir a escuridão

...

E a lua desterrada

Dorme nas ruas da Lapa

Curtindo a ressaca

Ébria de sonho e volúpia...

Rafael Sampaio
Enviado por Rafael Sampaio em 01/04/2009
Código do texto: T1516373
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