Devaneios
Passeio os pincéis sobre uma tela de nuvens
O vento vazio, o sopro de nada
O dia morrendo nos braços da noite
A ilusão beijando os mortais
Enquanto o canto jaz num canto sóbrio
Sombrio e vago
E se desvanece nos passos ligeiros
Dos homens e seus sentidos
Seus motivos
Seus trabalhos
O cheiro de choro
O gosto amargo e salgado
Das desilusões
Os anos passam
cheios de mofo
E azia
Os carros na contramão
O avião que chega da Ásia
Trazendo consigo a escuridão
Chega
E adormece no devaneio
E a dor nasce no peito
E dorme
...
Mas eis que então
O sol vem do Japão
E nos acorda
Com seu defeito de fabricação
Seu incômodo defeito
De desfazer a noite
Desfazer a solidão
Sua mania inconcebível
De ruir a escuridão
...
E a lua desterrada
Dorme nas ruas da Lapa
Curtindo a ressaca
Ébria de sonho e volúpia...