PEIXE
peixe,
quero te criar, peixe
a fazer planetas no fundo do mar
ao engravidar do pão
até multiplicar-se
peixe,
quero te comer, peixe
bem fritinho, de moqueca ou no risco
de atravessar-me a fala
com tua espinha
peixe,
quero te fisgar, peixe
com linha de fundo, com anzol, com a rede
de arrasto da fome;
assim te devoro
peixe,
quero te dividir, peixe
numa maré de março, numa tarde de sexta-feira
para outras bocas
afim de ter-te
peixe,
quero te mercar, peixe
numa feira livre com fregueses reclamando teu preço
barato pr’este irmão
a vender-te
peixe,
queto te agradecer, peixe
por tua carne branca, por tua lisa escama, pelo teu sabor
de um Jesus marcado;
deixa-me pescar-te?