BRASIL QUE BATUCA E APANHA

PELE VERMELHA

Não me espere branco

Sou pele vermelha

Não me espere muito

Sou pouco

Não me queira inteiro

Vou aos pedaços

Não me chame América

Sou brasileiro.

PRA DERRETER A GANÂNCIA

Pra derreter ferro

aço

concreto

é preciso mais que paciência e silêncio.

Pra derreter ganância

arrogância

poder

é preciso mais que submissão e medo.

A TERRA DE QUEM TEM

ele passou séculos olhando pro chão

arando o áspero solo

a espera que fartura jorrasse

que um dia lhe viesse

bonança

que o céu se abrisse

e deus lhe o acolhesse como a outros poucos justos.

quando olhou pro céu já era futuro

aviões passavam longe

e o solo explodia ferro e pólvora

e na sua terra

plantaram minas

e levaram tudo: sua casa seu sangue seus filhos

MEU PEITO BATE BATUCA LOUCO

Meu peito bate batuca

um samba maluco

um rap repente rasgante

gritante ciente

de que a vida é mais

muito mais que mazelas

violência miséria corrupção

A vida é simples:

alegria ação e conquista

A vida é luta

coragem amor. Me escuta:

a vida não é força bruta

que a tudo atropela

A vida é mais!

é respeito, zelo, cuidado

arte cultura felicidade.

.......

Meu peito bate batuca

um hip hop xaxado

um canto negro e mulato

e cafuso que resulta

nesse som sem dono

impuro mundano urbano

mas que dá viva a vida

e joga luz na cidade

A vida é mais

Nada néga. Tudo dá

é só uma questão de luta

conquista. Me escuta:

a vida é busca e revelação

renovação inovação

Ouça a canção

que o meu peito batuca

A vida é mais!

É respeito, zelo, cuidado

arte, cultura felicidade.

LAMPIÃO NADA DISSE/MAS RESISTE

Lampião nada disse

Mas resiste

Até os dias atuais

na trincheira

cangaceira brasileira

Lampião não esmolou

migalhas

da mesa latifundiária

assassina

coronelíssima

Lampião não esperou

sentado

que lhe tivessem consideração

Lampião é bala

Lampião é garra

Lampião não esperou

Favela

Para morar e se calar

Cidade

Peão de obra, massa de manobra

Lampião é revolta

Da massa

Antes da atrocidade

É resposta seca à política

Da elite nordestina

Lampião não disse

Mas eu falo por ele

e assino embaixo

ACREDITE NO AGORA

Não acredite que no futuro

Tudo vá mudar

Que o mundo será melhor

Exija o seu a vista

Queira sua parte agora

Não se ligue em discurso

de paz

com a arma na sua cara

Paz não se fala se faz

com atos, ações. Agora

Não pense que o amanhã

será melhor

se você for pobre

morar na periferia.

Sua alegria só virá

se você for à luta

Não pense que lhe darão

boa educação, saúde de graça

Não acredite em promessa

Distinga a fala e o ato

Esse é o primeiro passo

Não pise em falso

Não acredite na fuga

Como saída

Não parta pro estrangeiro

Fique e faça aqui a sua parte

Não se iluda, seu país é este

Não se engane

o shopping não tem alma

A sua cara é morena

Seu olho não é azul

Sua terra também é América

Não se aquiete

Diante da farsa

Não pensa que irão te dar o diploma

Te arrumar emprego seguro

Garantir o teu futuro

Nem ache que status é meta

O mundo está organizado pra te ferrar

Se você for pobre

Morar longe

Acordar cedo

E trabalhar muito

É preciso desfazer a trama

Mudar o eixo

Puxar a base

Sair de baixo

E deixar que a pirâmide desabe

BATUQE FORTE NO SEU JAZZ

Não se contente com o rock

Não se conforme com a techno

Não chore com o blues

Bote xote no seu pop

Bote samba no seu rap

E alegria no seu blues

E batuque forte no seu jazz

PEDRA BRUTA/CIDADE

Fui pedra bruta

Chão duro/sertão

Peça talhada/cidade

à faca e formão

Sou dor e pranto

No concreto/asfalto

Falta mato

pro meu coração

Estou aqui inteiro

ou quase

à beira do abismo

Caos/trânsito/viaduto

Rimo tudo com aflição

Sigo à beira/periferia

Não há caminho/futuro

Só atalho

Feras à espreita

Tudo é fortuito

e escapa-me à mão.

Moro longe

Pago à vista

o dia de amanhã

Estou à margem

Quase nada é a paga

Pouco é tudo o que nos dão

...........

sou pedra/concreto

da cidade parte

televisão, guitarra

escarros na calçada

cachaça, baseado à mão

Sou soma de sins

e muito mais nãos

Há beijos e abraços

mesmo na lotação

afagos apertados e aflição

...........

Tudo é parte

sou pedra da cidade

edifícil/ babel

céu cinza/ sinal vermelho

sambo reggae e baião

no forró tem funk

samba-rock sobre a laje

rock de garage

Um só coração

que bate que se abre

avenida é um corte

Ipiranga, São João

Sigo cego reto coerente

a mente do poeta não mente

como os versos de Salomão