ATÉ QUANDO SOFREREI?
No princípio uma montanha
Da montanha, um vale
O qual anunciava uma queda repentina
No vale uma sombra
E na sombra a solidão
Na solidão o temor e o medo
Ao sabor da morte.
Longe, mui longe
A montanha e a luz brilham
Fora do alcance de mãos manchadas
De labores vãos
Raios de luz
Sinal de esperança
Entusiasmo num peito cansado
E mãos trêmulas
O sorriso na angústia
E a coragem na dor
Onde está a montanha?
Para onde fugiu a luz?
O espírito se torna cansado
E a alma enferma
O coração arrebatado para longe
E então, chora!
Os gritos de dor e remordimento
Fazem canção na noite fria
Clamando um perdão que não chega
O silêncio responde: sossega
Mais um sonho,
Uma montanha,
Um labor.
Muitos rostos cansados se queixam
Entretanto minhas mãos atadas não podem se estender
O socorro tarda e a luta prossegue
Mas as forças do homem se perdem
Mais um grito de dor
E o silêncio responde: Espera
Já se apaga o passado
E o presente de ontem
Contudo as cicatrizes inflamam
E fazem perturbar a calma
Senhor da montanha
Onde está o socorro?
Raios de luz! Raios de luz!
Afugenta as trevas que ofuscam a esperança
Traze-me a escada
Para que eu escale o monte
Sentimentos profundos
Instalam-se na noite fria
O sono carece de lágrimas
Mas mingua a fonte
Até quando?
O minúsculo grão de mostarda, a minha fé, nunca aumenta
E a montanha se torna quieta como a pedra fria de um necrotério
Entretanto, grito para a montanha: até quando?
Até quando?
(Em meio a muitas aflições no centro da frieza do mundo, a Europa. Espanha, abril de 1998)