O MENINO E O LIVRO

Conheci um menino que não tinha nome,
que morava lá nas terras do sem fim.
Ele não sabia ler, nem escrever,
mas trabalhava vendendo amendoim.

Aquela atividade lhe rendia um bom trocado.
Ele era franzino e carregava uma lata quente,
que servia para aquecer o amendoim torrado.
Mas eis que viu um livro aberto caído no chão
E seu coração, sincero, olhou meio espantado.

Sentiu-se atraído por aquela magia.
Será que aquele objeto tinha algum encanto?
Por que será que estava jogado num canto?
Ah! quero ver o que é... Vou ver, pensou ele
Até que, de repente, ouviu-se um pranto.

Ele, escabreado, correu para um lado
onde, escondido, ninguém o veria.
Quem chorava com tanta dor no coração?
Era uma mulher, linda como o sol
e elegante como as tardes de verão.

Ela, caminhando lentamente, viu algo no chão
Abaixou-se, pegou o livro e começou a ler.
Folheou, leu, releu e parou numa figura.
O menino saiu do esconderijo e, paralisado,
ficou se perguntando: O que faz essa criatura?

Ao perceber que ali estava uma criança
A mulher parou, fechou o livro e perguntou:
Quem é você, qual é o seu nome... Tens família? 
Sou um menino sem nome, Senhora! –
Por que você estava escondido atrás da mobília?


É que eu me assustei ao ver a senhora entrando.
Percebi que estava muito triste e chorando.
É, meu menino, hoje estou meio tristonha...
Lendo este livro, percebi que a tristeza não existia.
O importante é a vida, é sorrir, saber, é ter alegria.


E onde a senhora descobriu tudo isso? Foi aí?
Sim, foi aqui. Isto é um livro, você não sabia?
Não senhora, eu nunca vi, não conhecia.
Menino sem nome, você não é alfabetizado?
Quer que eu te ensine a ler, para que tenha sabedoria?

Ah! senhora, nunca vou conseguir aprender
Tenho que trabalhar para ter o que comer.
Saio de casa cedo e trabalho até o anoitecer.
Minha família é grande e o meu pai faleceu
Minha mãe, pobre senhora, também adoeceu.

Mas, meu menino, eu resolvi te ajudar.
Todos os dias, vou te ensinar a soletrar,
até que você consiga as palavras formar.
Ficará mais esperto, mais sabido e contente
e poderá ganhar mais e ajudar a tua gente.

Ganhar mais, a senhora falou?
Sim, meu filho, ganhar mais sabedoria.
Porque quando aprendemos a ler
fica mais fácil entendermos as coisas da vida,
já que não tem preço o patrimônio do saber.

O menino pegou o livro e sorriu.
Eram desenhos e figuras iguais as reais,
que via pelos caminhos todos os dias.
Mas daquelas letrinhas miúdas, nada sabia.
Então pediu: A senhora me ensina, tia?

E o menino sem nome aprendeu a escrever.
Soletrando devagar, também aprendeu a ler.
Pegou o livro que tinha visto pela primeira vez
e leu aquela página que naquele dia de tristeza
a senhora que sofria - a tia - leu e releu e
depois sorriu debruçada à mesa:


“ Nestas páginas você encontrará muita variedade.
Não sei se gostará, mas existe muita verdade.
São contos, lendas, histórias com começo e fim;
São versos que te levam a viagens infinitas,
em que você pode chorar, rir, ficar triste ou feliz.
Mas bem no fundo do seu coração, se você
estiver lendo estas linhas, sorria, porque
você está vivo.
Viver é um caminho bendito e dadivoso
que Deus nos deu para evoluirmos
Espiritualmente na "ESCOLA DA VIDA".

Você ouvirá o som do silêncio;
Visitará o sol e as estrelas do firmamento.
Escorregará na cauda de um cometa,
sentará nas nuvens, pensando ser de algodão doce.
Lá no final do arco íris, encontrarás um caldeirão
cheio de ouro e muitas pedras preciosas.
É o tesouro que caiu do céu com as gotas da chuva.
As árvores sorriem quando chega a primavera;
Os pássaros gorjeiam e gritam em sintonia
Fazendo mais feliz a terra, trazendo-nos alegria.
É uma orquestra, cujo maestro, com sua batuta,
lá do Universo, nos rege com harmonia e
transforma tudo, enfim, numa eterna sinfonia”.



Tia, quando eu aprender tudo isso
e tiver essa tal sabedoria
Serei sempre feliz e espalharei muita alegria.
Acho que meus irmãos vão gostar;
Minha mãe vai melhorar e, quem sabe, um dia,
eu saberei tanto que até poderei ensinar.
Obrigado, Tia!


Niterói/RJ, 30 de MARÇO DE 2009,


MEG KLOPPER






Publicado no Recanto das Letras em
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MEG KLOPPER
Enviado por MEG KLOPPER em 30/03/2009
Reeditado em 06/08/2012
Código do texto: T1513203
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