SÃO PARA TI
São para ti, os meus versos.
Para ti, cuja alma se alimenta da profundidade dos momentos.
E que extrais de cada um deles aquela partícula especial,
destilada da sua beleza e dos seus encantos,
da qual sobrevives enquanto registras na poeira, em passos,
os passos desse caminho que, caminhando, fazes teu.
Para ti, que sabiamente sacrificas no altar das Escolhas,
e nele vertes o teu sangue em permanentes oferendas,
buscando nessas trocas a segurança que precisas
para, mesmo que fortuitamente, seres quem és.
Para ti, que sabes que não pode ser de outra maneira,
e que regressas, em relutantes passos contrariados,
de horizontes mais belos onde ficarias, se pudesses,
vibrando em plenitudes indizíveis de poeta.
Que cruzas os teus passos errantes e anseios
com outros que também perseguem esse ideal maior.
e se destacam do conjunto, do rebanho dócil,
brilhando em luz própria enquanto cruzam os céus,
mesmo que rumando apenas sonhos.
São para ti, os meus versos, porque sabes mais.
Porque entendes que não há sonhos
que sejam, afinal, apenas sonhos.
Que todos eles são a mudança já começada,
um primeiro passo de uma outra escolha
que pode nem significar mudança.
Talvez apenas um ajuste, um retoque, um jeito,
algo por onde deixemos a vida entrar
e atingir-nos o cerne de uma outra forma,
acariciando-nos o peito com seus dedos de veludo,
agregando prazeres e sonhos sem destruir realidades.
São para ti, os meus versos, porque são teus.
Porque sempre nos encontraremos neste caminho,
mas talvez nem sempre saibamos reconhecer no outro
aquela parte de nós tão única, tão especial,
que existe através do tempo em eterna beleza
e faz com que derramemos em letras o nosso sal.
Serão sempre teus, os meus versos,
saibas-te poesia, ou não.
MARÇO 2009