EM UM TERRENO BALDIO DA RUA BELÉM...
haverá vida de sobra nesses quadrados
onde tijolos se põem a crescer
aos pouquinhos, uma casa
prontinha para nascer
é ferro, é madeira, é brita, é cimento, é argamassa,
é um mestre-de-obras mal-humorado
a arrotar satiridades,
são oitões, são tesouras, são caibros, são estribos, são cachorros,
são homens de sovacos suados
a beber café e a fumar
é a mulher a sonhar com seus espaços:
– Aqui, o escritório! Cá, a lareira!
é o marido a se preocupar com o orçamento estourado,
é piso, é forro, é rodapé, é telhado, é pintura,
é o cheque duvidoso, a esta altura,
é o vaso sanitário, é o sofá da sala, é o porta-toalhas, é o abajur,
é o lugar para ficarmos abraçadinhos
e aos poucos, aos pouquinhos,
quando definitivamente crescidos os tijolos,
o parto da casa:
há sobra de vida nesses concretos quadrados!...