Germina.
Agora as memórias se devoram
Num carrossel de poeira e cinzas
Assim esse tempo e esse vento
Encarregaram-se de renovar
Todos os cheiros provocam
Uma sensação selvagem
E somam numa avidez quase lúcida.
Entre o meu corpo e o seu mundo
Cabe um oceano inteiro
E ainda assim pressinto teu cheiro
De almíscar selvagem com maresia de fêmea.
O sal da boca adivinha estrelas
E a boca quente se oferta
Em bebidas inusitadas
Salivas temperadas em soluços.
A língua atrevida passeia
Reinventando os sentidos...
Colhíamos frutas maduras
E nos saciávamos nos seus líquidos
Encharcado nos teus silêncios
Atirava-me nos seus abismos...
Agora o teu calor é uma maré
Que inunda delicada e crescente
Guarda o êxtase entre dentes
Que te quero lânguida e lúcida.
Que o meu sabor e teu cheiro
Embriague-nos num delírio único.
Germina minha primavera selvagem.