Cinzas
Estes são fragmentos de poemas que alguma vez na vida comecei, mas não cheguei a terminá-los. É claro que poderia juntar algumas partes e formar uma só composição, mas não seria nem um pouco honesto. Também poderia terminá-los, mas o sentimento não seria o mesmo, e provavelmente eles ficariam desconexos. Por conta disso, publico-os assim, incompletos, dando-los o dom da existência que provavelmente nunca teriam, e também a mesma importância dos seus irmãos completos. Afinal, poesia não se mede, já dizia John Keating.
***************************************************
Eu não sei te descrever com palavras
O lábio treme, seguindo os dentes
Mas sei, moça, que na terra que lavras
Não há estorvos para boas sementes
--------------------------------------------
Nos teus cabelos eu quero me enrolar
Para de ti nunca mais me desgrudar
E teu lindo rosto de perto admirar
Perdendo-me de amores em teu vão olhar
--------------------------------------------
Quando adentraste por aquela porta
Dilataste minha artéria aorta
Neste peito que agora te comporta
Revivendo esta aparência morta
Ah, a sua indumentária escura
Teu piercing de dor, de amargura
Nada disso em você me traz agrura
Só invoca uma insurreição de ternura
--------------------------------------------
És linda; já deves ser preterida
E em ti não tocarei um dedo sequer
Mas que falta faz uma margarida
Para dela tirar um bem-me-quer
--------------------------------------------
Não consigo tolerar a ignorância
Intrínseca em tua ínfima presença
Garatujas fonadas com pujância
Soando em meu ego como desavença
Entenda, mentecapto meliante:
Não basta só ler, tem que compreender
Ouvir mais para ser menos pedante
Falar pouco para absorver o entender
-----------------------------------------
Apaga-se a fogueira...