Cinzas

Estes são fragmentos de poemas que alguma vez na vida comecei, mas não cheguei a terminá-los. É claro que poderia juntar algumas partes e formar uma só composição, mas não seria nem um pouco honesto. Também poderia terminá-los, mas o sentimento não seria o mesmo, e provavelmente eles ficariam desconexos. Por conta disso, publico-os assim, incompletos, dando-los o dom da existência que provavelmente nunca teriam, e também a mesma importância dos seus irmãos completos. Afinal, poesia não se mede, já dizia John Keating.

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Eu não sei te descrever com palavras

O lábio treme, seguindo os dentes

Mas sei, moça, que na terra que lavras

Não há estorvos para boas sementes

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Nos teus cabelos eu quero me enrolar

Para de ti nunca mais me desgrudar

E teu lindo rosto de perto admirar

Perdendo-me de amores em teu vão olhar

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Quando adentraste por aquela porta

Dilataste minha artéria aorta

Neste peito que agora te comporta

Revivendo esta aparência morta

Ah, a sua indumentária escura

Teu piercing de dor, de amargura

Nada disso em você me traz agrura

Só invoca uma insurreição de ternura

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És linda; já deves ser preterida

E em ti não tocarei um dedo sequer

Mas que falta faz uma margarida

Para dela tirar um bem-me-quer

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Não consigo tolerar a ignorância

Intrínseca em tua ínfima presença

Garatujas fonadas com pujância

Soando em meu ego como desavença

Entenda, mentecapto meliante:

Não basta só ler, tem que compreender

Ouvir mais para ser menos pedante

Falar pouco para absorver o entender

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Apaga-se a fogueira...