Vozes
Diga a seus amigos o quanto eles são importantes
ao seu filho o quanto o ama
e ao tempo o quanto ele te ensina...
diga ao teu corpo que estás cansado
e que teus ossos precisam de descanso
e tua alma de um lar para descansar...
diga ao teu poeta interno
que é hora de parar com os versos
e olhar o mundo de baixo, do chão, do lodo
diga o quanto se sente solitário
e quanto o amor daquela companheira faz falta
e que sem ela teu caminho é nu...
diga aos lábios da menina daquela cidadezinha
que ali adormecem beijos que ela te prometeu
nas noites frias de são João...
esse teu silêncio todo te imputa coisas alheias
e tu adormeces como quem correu todo o dia
para dar uma notícia por todos já conhecida...
diga alguma coisa, nem que seja um grito no vazio
uma canção ou um poema de uma amiga distante
mas diga qualquer coisa, que nem sempre o silencio é ouro...
diga a si próprio que a palavra desnuda
o som invade o perímetro marcado pela tu’alma
e sem ele não poderás viver...
Beije com tua voz o silencio que invade teu quarto
faça dele teu amante voraz, tua cama quente
beije muito as mãos do silencio pondo nelas o beijo
que guardastes para as horas de devaneios...