CACOS
Passada a tormenta é hora de contar os mortos.
É chegado o momento de acordar da letargia,
juntar os cacos, recolher os destroços do que fomos.
Tantos momentos bons, quero guardá-los
numa caixinha na memória.
Tantas tristezas, tantas perdas...
O que foi feito das raízes fundas que criamos juntos?
Queria poder voltar o filme e com olhos de crítico
enxergar onde foi que nos perdemos.
Em que altura seguimos caminhos diferentes
e voltamos para casa como dois estranhos.
As diferenças crescem aos olhos.
A falta de tolerância, cumplicidade, carinho
ocuparam as noites de longas conversas
depois do amor bem feito.
Os corpos que se achavam no escuro,
hoje mal se tocam...
E uma tristeza toma conta,
invade com ímpeto meu peito e meus olhos.
Dói perceber que não passamos de uma promessa.
Que não deu para resgatar o irresgatável.
O coração está seco,
sem força para bater de novo por você.
É uma solidão sem estar sozinha,
uma vontade de sair correndo
e simplesmente respirar.