ATRÁS DAS GRADES
Atrás das grades desta escura cela,
galga o meu pensamento espaço fora
buscando a tua face sofredora,
que só no pensamento posso tê-la.
Atado e amordaçado, a toda a hora
eu parto para ti. Desta janela
eu salto, feito vento, nuvem, estrela,
raio e trovão, cabeceando a aurora.
Recordações estalam, luta, amor
palpitam no meu sangue. Dia a dia
toda a vida crepita, toda a dor
me enrola e argamassa e rodopia.
Resisto, eu sei. Mas, sem o teu calor,
que sou eu mais que esta parede fria?
(Prisão de Caxias, 15 de Outubro de 1972)