Aos Pássaros Que Aguardam o Sol

Chuva não cessava, como pranto do céu

Meu peito inundado, sem fôlego mais

Mil parafusos soltos, casa, carro, véu

Chuva não cessava, transbordava ao cais

Não importava o rumo qual tomaria meu corpo

Meu peito dilatado, sufocado, como o céu, aos prantos

Pouco a pouco, eu me via ali, morto

Chuva não cessava, dilúvio em todos os cantos

Pagando o preço certo, incerto do troco a receber

Um beijo doce, uma palavra, um sorriso, um abraço

Chuva não cessava, meu peito me vendo morrer

Cada passo do meu corpo, se via o último passo

Eis que me vejo em sol, bemol de desejos mil

Outros caminhos, trilhas, estradas, possibilidades d'alma

Eis que outrora o corpo e mente que se via vil

Se vê no anil do céu, n'uma bela e ousada estrada

Um pássaro que passa e deixa tua mensagem,

jamais lhe dará carona até o fim da estrada,

mas lhe inspirará coragem

Pois os pássaros esperam o sol

Pra que abram tuas asas.