ANJO DA GUARDA
Escrevo sim,
palavras soltas que malvadamente me enganam.
Revelo a tristeza amiga
nas marcas espalhadas de um destino doente
e cercado pelos mistérios de toda uma vida mal vivida:
o céu azul-marinho, a noite adormecida no vazio,
e a nitidez da madrugada que boceja tranqüila.
Escrevo sim,
nos labirintos dos meus labirintos.
Escrevo ainda assim
e nunca sei se devo,
nem encontro uma cor qualquer
que transforme o inimaginável limite do meu fim.
As rimas surgem e como vaga-lumes acendem-se,
deixando claras as mentiras
que suavemente escondo de mim.
O verso produz uma única lágrima.
O brilho de todos os planetas...as últimas estrelas...
a timidez pálida de uma longa lua...
e eu busco nas linhas que invento,
um poema que cante sobre a paixão ausente,
que fere , que explode e que grita ,
ecoando desespero na imensidão
silenciosa e calma, transparente e nua.
Escrevo sim,
a esplêndida canção que desperta meu anjo,
vampiro, demônio ou querubim,
e outra vez a manhã se anuncia.
Meus astros trocam a luz pelo breu,
o universo em fuga , atordoado pela sombra da luta,
esvazia e adormece por fora e por dentro de mim.
Escrava é essa dor da amarga saudade,
ainda que consolada pela palavra , doce e trauma.
Transformo em sol a escuridão da eternidade,
vestindo de primavera a tristeza da alma.
Mas a poesia pronta, repousa na essência da minha verdade.