VIDENTE
VIDENTE
Tudo claro como o raio e simples como a serpente
evidente como a morte que há na sorte da vidente...
A cruz à beira da estrada, porteira que não se move
o cantar das corredeiras tão cansado me comove...
E meu corpo hirto na relva, horto de eras ao relento
pensamentos nos abrigos dos remoinhos do vento...
Cerca de arame farpado e esse entulho no jardim
milho novo replantado nas vertentes de alecrim...
Duas ovelhas no aprisco, um cão magro na cadela
dois jacintos pendurados nos dois lados da janela...
Tudo certo como a morte esperando simplesmente
evidente quanto a morte que há na sorte da vidente...
Afonso Estebanez