UM SONHO (XÂMANICO)

Sonhei estar sendo julgada...

Sentada no banco de réus...

A juíza, toda compenetrada

Era uma linda mariposa...

Que quando a mim se dirigia...

Liberava um pó dourado, que magia!

Quando ela se levanta,

Todos acompanham seu movimento,

Eu.. que não estou entendendo nada,

Fico perplexa nesse momento!

Que julgamento estranho!

Existe uma fila de animais falando...

A juíza bate o martelo...

E os trabalhos inicia!

A formiga então falou: ela é culpada...

Tem a magia da palavra e a quer abandonar!

A multidão aplaude, em delírio!

Bate-se o martelo, outra vez...

(Não estou entendendo nada!).

O cavalo então falou: culpada sim!

Eu lhe dei o poder de correr as planícies da palavra...

Como pode ela, meu presente renegar?

Levanta-se a baleia, dizendo:

Eu também lhe dei as viagens de tempos pretéritos...

Ela que não a soube usar!

Culpada... eu volto a afirmar!

O cisne, choroso, indignado, levanta-se...

Eu dei-lhe o poder da mulher, se traduzindo em palavras...

A graça eterna em seu poetar!

Lago de águas claras... fazendo todos os leitores

Com sua poesia viajar!

E assim, numa algazarra danada...

Todos os aliados desfilavam...

Mas o veredicto era um só: culpada!

E eu lá, boquiaberta... paralisada!

Chegou a vez do coelho... que bichinho assustado...

Tremia e gaguejava... não conseguiu falar

Teve que ser socorrido... sentiu falta de ar!

Os animais perderam o controle...

E todos começaram a gritar:

Ela é culpada... ela é culpada...

Vamos a poesia dela tirar!

De repente, a juíza nota o coiote saindo de fininho...

Bate seu martelo e o chama de volta!

Ele, um trapaceiro, viu sua trama acabar...

E assumiu a culpa, de a todos enganar!

Era só uma brincadeira pessoal...disse então o coiote...

Ela adora poetar... só que me esqueceu num canto...

E nem ao menos me dá um olhar!

Todos respiraram aliviados

E eu, mais ainda...

Viver sem poetar

É viver completamente sem alegria!

Santo André, 02.07.03 - 18:45 h