A última poesia
Me dói cálido coração.
Me dá medo
estes olhos frios.
Não mais amor,
não mais carinho,
não mais tesão;
e como meu
corpo pede...
Teu corpo,
que jaz no ontem.
Meu beijo
que já não traz
mistério
doce
paixão.
Chama acesa
e pernas a tremer.
Ver - te enquanto ando,
enquanto deito,
enquanto transo,
enquanto paro,
enquanto quero,
enquanto escuto,
e sem querer.
Os meus vícios
veem e vão.
Tu vais
e não mais volta.
Não quero -
digo certo.
Mas sei que preciso,
pois corre-me sangue.
Superior acima estás:
É o medo que sinto;
ciúme besta.
Minha calma mentirosa
e meus espasmos
nada discretos,
desassossegam o que poderia,
trazem trevas
na luz tão rara.
Houve amor
um dia, ouve,
quando digo que te amo.
Sonho - te todo dia,
toda cama,
todo copo.
Não mais tua face esqueço,
como antes o fazia,
para ter - te de primeira.
Hoje, sempre vejo,
nítidos, teus olhos
onde confessei
minha verdade
e meu sentir.
Tua boca,
que a todos acomete
em qualquer discurso,
fala calma,
serena e sábia,
quando não se explode
em devaneios.
Teu sorriso que
não mais tenho.
Teu abraço
somente irmão.
Teu falar
que mostra o claro.
Teu beijo
agora de outrem.
Me despeço do que sinto,
que ainda sinto
e faz-me chorar.
Choro de não ser arrependido,
mas de um dia ter vivido
algo de saudades
e agonias,
que constroem -
nessa besteira de ainda amar -
o amor ideal;
não me traz,
nem me dá,
só existe e
se desfaz.