Desabafismo em IV ATOS

ATO I

Tenho que voar alto

Subir escadas sem degraus

Inspiro-me sentado, deitado, em pé

Nem podendo às vezes respirar

De tão imbuído na minha escrita

Vivo meus versos que contam

O que vivi e o que sonhei

Sofrendo por antecipação

Pensando se eles terão

Vida própria

Se eles arremessarão

Teu coração ao longe distante

Fazendo tua vida se tornar

Minha vida...

Por alguns momentos

Hora em que meus versos trôpegos

Esbarram na tua visão

E aos trambolhões enternecem

Tua alma que mergulha

Como uma âncora bem lá

No fundo obscuro do mar

São versos abissais, colossais

Trêmulos, factíveis, perpétuos

E exauridos de tanta tristeza

E de tanta alegria

De sensações aceleradas...

...VRRUMMM

Trepidando intrépidos a mil por hora

Procurando o teu endereço

Com o apreço de quem tira

Nota dez com louvor.

ATO II

Esses versos vivem falando

De amor e voando alto

Pendurados de ponta-cabeça

Cantando aos berros

Gritando nos seus ouvidos

Os sonhos que eu sonhei...

... E perpetuo-me exercitando-me

Pelos atalhos das entrelinhas

Que às vezes não são tão paralelas

Como você imagina

Mas sou eu que estou aqui

Enviando esta correspondência

Sem saber o CEP exato

Mas tendo a certeza

Que você vai recebe-la

Logo mais, mesmo que a sua escada

Continue sem degraus

Isso só para que eu não escute

Nunca mais o teu choro

Chorado e molhado

Lambuzado de lágrimas

Transparentes e brilhantes

Que rolam por teu rosto abaixo

Até alcançarem os teus lábios

Pintados de batom vermelho.

ATO III

Meu poema chegou em tempo

Muito antes de você se estrepar toda

Bem antes que a tua boca

Estivesse daquele jeito sem jeito

Molhada por fora pelas lágrimas em rio

E seca por dentro

Com aquela sensação de língua grossa

E com gosto de amargo-despedida

Agora, eu vejo, você me devora

Engole minhas letras

Como um engolidor de espadas

Engasga e tosse as minhas frases

Os meus versos, os meus pensamentos

Os meus sentimentos, o resumo

Prático e retórico da minha vida

Que agora dá sentido à sua vida

E eu falo do amor que despencou ladeira abaixo...

...Você já teve um !

Eu falo do beijo morno e adocicado

Com gosto de cereja do Vale...

...E você já deu um !

Eu falo do perfume perfeito

De corpos em movimento...

...E você sabe muito bem do que estou falando !

Eu falo a versos soltos sobre os reversos da vida...

...E você viveu mas não versou !

Olha só !!

Você riu, chorou

Suspirou, respirou fundo

Olhou para cima, sorriu

Cruzou e descruzou as pernas

Piscou diferente

Engoliu em seco

Pôs a mão no rosto

Coçou o nariz, voltou ao passado

Transpirou, viajou ao futuro inquieto

E se deu de presente o seu próprio presente

Sentiu-se viva

E indecorosamente letrada

Por estes versos lúdicos

E displicentemente arruaceiros.

ATO IV

...Vivam versos vivos que dão vida à vida !

E eu suponho que você torça também por isso.

Mesmo que existam pessoas que amaldiçoam as certezas

Interferem com ruindade, esperneiam

Pessoas que deveriam colocar a mão na consciência

Pessoas que caluniam, gritam com cara de loucas

E tem por fim a ruína anunciada

O amanhã guarda as verdades de cada um...

Renato Baptista

http://academiadapoesia.blogspot.com

Renato Baptista
Enviado por Renato Baptista em 16/03/2009
Código do texto: T1489767
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