ANTROPOFAGIA
Repousa tranqüila e serena a Terra,
em seus sonhos de engolir o mundo.
Com a boca eternamente escancarada,
por seu banquete pisoteada,
faminta espera...
engolir toda matéria!
Deglutindo um a um
os mortais insignificantes;
estranhos, complexos, deliciosos habitantes!
Não discrimina raça ou cor,
não importa cheiro ou sabor,
tudo é bem-vindo,
não causa indigestão!
Assim segue a Terra
pobre e gulosa criatura.
Tudo sempre acaba...
sete palmos abaixo,
à cada nova sepultura.
Em sua comilança,
só lamenta a sobremesa...
que nunca lhe é servida.
Devora tudo que tem vida,
mas a imortalidade não lhe cabe.
Desgostosa ela chora,
pois que ela bem sabe,
que jamais conhecerá
a levesa e a doçura das almas!