POEMA DE PEDRA

POEMA DE PEDRA

Eu pedra bruta do tempo

que me passou esquecido

no inventário do momento

de viver de eu ter morrido

percorro o longo decurso

de todo o tempo perdido.

Eu profetas de gomorras

ruir de torres tombadas

sodomas de meus sentidos

de extintas almas salgadas

artesão de antigos sonhos

de mãos rudes algemadas.

Eu perdido se me encontro

sensível ao que não sente

descaminho de um futuro

de algum passado presente

vou pedra fingindo a carne

e sangue fingindo a gente.

Eu castelos de crepúsculos

naus sombrias sobre vagas

eu mortalha dos moluscos

de esperanças naufragadas

faz-se em mar a minha vida

das marés que são choradas.

Eu templo de deuses mortos

becos tortos sem calçadas

vendo o mundo das janelas

que o amor deixou fechadas

sou um elo entre essas vidas

que se atraem separadas.

Hoje sou pastor de rios

sentinela das colinas

mirante das fortalezas

nas ameias das neblinas...

É por mim que à noite

os ventos vêm chorar

sobre as ruínas.

Afonso Estebanez

Afonso Estebanez
Enviado por Afonso Estebanez em 15/03/2009
Código do texto: T1487264
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