MEU NAUFRÁGIO

Vai longe a madrugada! O mar se espraia!

A luz que vem do céu – esplêndido arco –

Alumia a ilha que no mar desmaia

Até que chegue, salvador, o barco.

Náufragos, inocentes prisioneiros,

Nós, solitários esquecidos na ilha,

Esperamos socorros verdadeiros...

Não miragem, que ali já sempre brilha.

A deusa dorme ainda em chão de esteira

Estendida entre restos de choupana.

O sol afaga a sua cabeleira...

Dorme feliz, sonhando com Nirvana.

Esta é a ilha do viver na qual caímos

- Nautas ingênuos em paixão virtual.

Sem ter porto seguro, sem arrimo,

Afundamos o barco em temporal.

A nado, aqui chegamos – preciosa ilha! -

Cada um segue caminho diferente

Entre cantos e flores... Maravilha!

Lutamos pra voltar à nossa gente.

Até que a noite chega, majestosa...

Céu sem nuvens, muitíssimo estrelado,

E a lua no crescente, luminosa,

Envia o seu clarão tanto esperado.

E os fantasmas da noite – nós temendo –

E os gnomos da terra levantados,

Unimos as esteiras, mas pudendos

Deitamos, conservando alguns cuidados.

Assim esperaríamos a vida

E, se preciso a eternidade a fora.

A verdade é cruel e dolorida

E sem verdade, tudo então piora.

Chegou o barco! Doce a salvação!

Festa, alegria, vivas e vitória!

E no âmago do humilde coração

Senti o gosto esplêndido da glória.

Mas, com meu pobre coração sangrando,

No labirinto, a sorte se empastela...

A deusa foge... Um poema nos deixando,

No qual ela nos diz: “Não sou aquela”.