INSANA TRADUÇÃO (Retrô)
Quando te conheci, viajei sem fim.
Te achei nas fronteiras de teu início e te trouxe pra mim.
Mas na crise das palavras nada encontrei que a ti pudesse definir.
Então que as palavras te achem e tudo que tu és possa fluir...
Não és só palavra, és figura também...
A linha que circula o horizonte e perfaz o desenho meigo do luar;
És a escrita almejada pela pena habilidosa do escritor,
És a cultura coloquial, a esquizofrenia sã de todo amor!
Tu és o banho dourado de um luar que se divorcia das estrelas;
O belo ornamento que recobre as águas dos rios numa noite de prata espelhada;
O açúcar do mel, a lã das ovelhas, o azul do céu, o sabor das cerejas;
Tu és a obra final, a canção terminada e o mais lindo verso do Autor do Universo!
Quem te viu tem a cura, quem tocou tua pele fincou os pés no solo do céu;
Muito tempo perde quem aspira inspiração, se te pode ver, ouvir, sentir;
Edifícios de emoção poderá construir quem teve o deslize de teus cabelos em véu;
Destino cruel, que o mais vil não merece, é viver como réu, apartado de ti!
Tu és a ditadura democrata da paixão, os altares rendidos aos deuses da ilimitude amorosa;
Nenhuma prosa te alcança, nenhuma flor rouba plenamente teu aroma, de todas as cores és dona;
Queimas nesse olhar, mas bem vindo é tal fogo donde tem-se o refrigério em teu beijar;
Que me deixes queimar, que me entregues o céu, que me negues o fel, que me deixes te amar!
Tradução insana é o que tu és – peleja inútil do poeta sonhador;
Outras veredas também te acham, todos os leitos desembocam em ti: nuance divinal;
Não há pintor capaz, compositor veloz, escultor audaz, tradutor de teu som, ouvinte de tua voz;
Nada há nesse mundo povoado por ti, pois no mundo do amor és princípio e final!