INSANA TRADUÇÃO (Retrô)

Quando te conheci, viajei sem fim.

Te achei nas fronteiras de teu início e te trouxe pra mim.

Mas na crise das palavras nada encontrei que a ti pudesse definir.

Então que as palavras te achem e tudo que tu és possa fluir...

Não és só palavra, és figura também...

A linha que circula o horizonte e perfaz o desenho meigo do luar;

És a escrita almejada pela pena habilidosa do escritor,

És a cultura coloquial, a esquizofrenia sã de todo amor!

Tu és o banho dourado de um luar que se divorcia das estrelas;

O belo ornamento que recobre as águas dos rios numa noite de prata espelhada;

O açúcar do mel, a lã das ovelhas, o azul do céu, o sabor das cerejas;

Tu és a obra final, a canção terminada e o mais lindo verso do Autor do Universo!

Quem te viu tem a cura, quem tocou tua pele fincou os pés no solo do céu;

Muito tempo perde quem aspira inspiração, se te pode ver, ouvir, sentir;

Edifícios de emoção poderá construir quem teve o deslize de teus cabelos em véu;

Destino cruel, que o mais vil não merece, é viver como réu, apartado de ti!

Tu és a ditadura democrata da paixão, os altares rendidos aos deuses da ilimitude amorosa;

Nenhuma prosa te alcança, nenhuma flor rouba plenamente teu aroma, de todas as cores és dona;

Queimas nesse olhar, mas bem vindo é tal fogo donde tem-se o refrigério em teu beijar;

Que me deixes queimar, que me entregues o céu, que me negues o fel, que me deixes te amar!

Tradução insana é o que tu és – peleja inútil do poeta sonhador;

Outras veredas também te acham, todos os leitos desembocam em ti: nuance divinal;

Não há pintor capaz, compositor veloz, escultor audaz, tradutor de teu som, ouvinte de tua voz;

Nada há nesse mundo povoado por ti, pois no mundo do amor és princípio e final!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 11/03/2009
Código do texto: T1480471
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