ABANDONO
E além do mais, ficou nosso último beijo,
perdido em meu coração escuro,
a procura de uma razão para o meu abandono.
Já não adianta mais disfarçar a dor que ele suporta,
silencioso e triste.
Tua ausência maldosa invade a madrugada fria e nua
e toda minha poesia chora.
Já não adianta mais disfarçar a dor que ela descreve,
silenciosa e triste.
Minhas mãos enfraquecidas saem vazias pelas ruas,
seguindo rastros imaginários que as tuas perfumaram
pelo meu bairro, alheio a minha agonia.
Já não adianta mais disfarçar a dor que elas escondem,
silenciosas e tristes.
E o dia, pérola mágica e misteriosa que clareia a noite,
ameniza meu sono embriagado, me confortando por um tempo muito menor que o determinado.
Nesta hora minha poesia descansa e o meu ser adormece
por entre as esquinas do meu desespero.
Já não adianta mais disfarçar a dor que ele encerra,
silencioso e triste.
E na noite que nasce, brilha junto à lua
a desconfortável certeza da tua total inexistência.
Nem o céu, nem a terra e nem o mar
serão sequer capazes de salvar-me.
Porque já não adianta quase mais nada.
Nem a dor que suporto, o silêncio que escondo
ou a tristeza que encerro...
Porque é madrugada em meu ser descontente.