O FIO D'ÁGUA
O fio d’água desce
Rasgando o ventre
Da terra que se contorce
Em dores e prazeres.
Marca o árido chão
Com sinais do seu desejo
Beijando o corpo nu.
Vai se aprofundando,
Descendo como suor
Por uma nuca arrepiada.
Alarga-se o veio.
Cobre-se de azul,
Dá à luz milhares de vidas
A pulular no seu seio.
Corre como comboio
Pela barriga da terra
E num crescendo sagrado
Explodirá em branca cachoeira
Antes que morra no mar.
27/09/04