De Passagem

Estava de passagem,

indo e vindo,

sem lugar certo prá ficar,

mas estava de passagem.

No caminho de agrulhos,

encontrei uma ponte de encarquilhos.

Do outro lado da ponte,

envergada de madeira,

e solicitude de musgos,

estava alguém acenando.

Esperto, até certo ponto,

acenei de volta, com meu tímido

arredio.

A outra pessoa do outro lado

falou mais alto:

"Vem, que é raso,

vem que flutua,

vem que a água é tépida."

Indeciso, me arremessei de

pensamentos.

Mas, de medo imprevisível,

sai logo dali.

Fui embora

por outra estrada,

menos arenosa

e sombreada de eucalíptos.

No caminho de pedras magras

enontrei um morador da região

- abastado de lenha às costas -.

Perguntei indeciso,

ao que achei de pobre homem:

quem fica do outro lado

da ponte a acenar?

E ele atorniquetado de toras

me disse:

é a dona da vida e da morte

que chamam os caminhantes.

E se eles não forem - perguntei

meio agro -

De duas uma - parecia refletir ele -

ou a pessoa está a beira da vida ou

da morte...

e o que o sr. disse - perguntou

o homem dos dos feixes.

Vim embora correndo - falei

já com meio-pé de medo.

- Então não se preocupe -

disse ele - se a pessoa nada te fez

é sinal que sua vida de nada vale

e sua morte, muito menos ainda.

Você está apenas de passagem

entre o claro e o escuro,

entre a vida e a morte,

procurando um caminho

que não existe;

procurando sentimentos que

já se foram -arredou ele.

E disse ainda:

Sua hora já é da noite,

e sua imagem só torquilha

medo e ansiedade.

Você não está aqui nem lá:

por isso se acalme:

você está apenas de passagem !

José Kappel
Enviado por José Kappel em 29/04/2006
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