[Correnteza]

O trem de carga buzinou ao longe,

a lua descaiu atrás das serras [de Minas],

a escuridão cobriu o vale do rio,

e eu fiquei na varanda, perdido...

Os meus olhos buscam, buscam, buscam...

Mas da paisagem noturna das ruas molhadas,

recolhem apenas o Nada, a vertigem

da vida parada no Agora, nesta varanda;

parada sim, mas só na superfície de interação,

pois no fundo, a correnteza é louca,

e vai me levar, com inexorável certeza,

para os anseios malucos do meu coração!

O poema é sem fim, é o único jeito que tenho

de estar sozinho, de suportar-me, enfim!

ou então, de devolver, no jato de um vômito,

a comida que me foi servida no dia hoje!