A PRINCESA E O POETA (Retrô)
Era Sábado: janela expondo o deslumbrante horizonte!
É por lá que desponta a fonte,
De toda loucura que se esculpe em sensatez.
Cá habita o singelo poeta, na multidão de seus eus querendo ser nós;
Reunido a sós, com as sombras de sua sóbria embriaguez!
Nem o sol nem a chuva.
Nuvem densa indecisa ecoa o surdo som da imprecisão;
Ela nunca vista, se desenha em sonho e adentra a porta aberta;
Ela: encanto, enérgica, linda, meiga, magnética;
Ele: sem feição, quer crer-se belo de coração, feito por ela poeta!
Foi a branda erupção, foi tufão de vento amigo;
Foi princesa em conto breve, sua voz: doce canção!
Foi amor em embrião, foi surpresa duvidada e duvidosa;
Deslumbrar – foi o verso
Encantar – foi a prosa!
Quem diria que as palavras poderiam lhe fugir?
Quem ouvira o tom rasgado de seu peito emocionado?
Quem explica a razão do poeta abobalhado?
E esse anjo aprincesado que num brotar desavisado, o poeta viu surgir?
São as linhas indecisas, episódio a nascer;
É ventura imprevista, de crescer ou de morrer;
É a lógica do não afligida pelo fogo insano do sim;
É o amargo do bom temperado pelo doce do ruim;
É o conflito da moral, é a quebra de valor;
É o talvez do só se for, é o veloz e descrido amor;
É um tudo em meio a confusas cores do nada;
É o pouco multiplicado no milagre do querer que se projeta;
É a voz menina da mulher realeza;
Que sem gesto algum se fez princesa e o tornou poeta!