A PRINCESA E O POETA (Retrô)

Era Sábado: janela expondo o deslumbrante horizonte!

É por lá que desponta a fonte,

De toda loucura que se esculpe em sensatez.

Cá habita o singelo poeta, na multidão de seus eus querendo ser nós;

Reunido a sós, com as sombras de sua sóbria embriaguez!

Nem o sol nem a chuva.

Nuvem densa indecisa ecoa o surdo som da imprecisão;

Ela nunca vista, se desenha em sonho e adentra a porta aberta;

Ela: encanto, enérgica, linda, meiga, magnética;

Ele: sem feição, quer crer-se belo de coração, feito por ela poeta!

Foi a branda erupção, foi tufão de vento amigo;

Foi princesa em conto breve, sua voz: doce canção!

Foi amor em embrião, foi surpresa duvidada e duvidosa;

Deslumbrar – foi o verso

Encantar – foi a prosa!

Quem diria que as palavras poderiam lhe fugir?

Quem ouvira o tom rasgado de seu peito emocionado?

Quem explica a razão do poeta abobalhado?

E esse anjo aprincesado que num brotar desavisado, o poeta viu surgir?

São as linhas indecisas, episódio a nascer;

É ventura imprevista, de crescer ou de morrer;

É a lógica do não afligida pelo fogo insano do sim;

É o amargo do bom temperado pelo doce do ruim;

É o conflito da moral, é a quebra de valor;

É o talvez do só se for, é o veloz e descrido amor;

É um tudo em meio a confusas cores do nada;

É o pouco multiplicado no milagre do querer que se projeta;

É a voz menina da mulher realeza;

Que sem gesto algum se fez princesa e o tornou poeta!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 05/03/2009
Reeditado em 05/03/2009
Código do texto: T1470410
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