PALAVRAS QUE SÓ TU ENTENDERIAS (Retrô)
Mundo sem rumo é esse!
É por isso que eu nele creio.
Acredito na franqueza da mentira.
É na escassez da imensidão que eu me sacio.
Ando muito bem acompanhado nessa solidão:
Porque a fartura me mata de fome e porque a penumbra me ilumina!
Canção muda é essa!
É por isso que eu a decorei.
Acredito na largura da estreiteza.
É na lucidez da estultícia que eu me educo.
Ando muito bem controlado pelas regras da transgressão:
Porque esse meu medo me encoraja e porque quanto mais longe de mim, mais me acho!
Oceano desaguado é esse!
É por isso que nele me afogo.
Acredito no elevado e insustentável peso do ar.
É no desengano da grave enfermidade que eu encontro minha cura:
Porque meu sorriso é dolorido e porque quando choro minh’alma está em festa!
Fortuna miserável é essa!
É por isso que eu te peço esmolas.
Acredito na lógica insofismável da contradição.
É no esquecimento de tudo que se aprende que reside a verdadeira cultura:
Porque nenhuma morte é mais letal que a vida e porque nenhum animal é mais desumano que o homem!
Abismo tão raso é esse!
É por isso que eu caio e nunca chego ao chão desse amor.
Acredito na felicidade de todos os êxitos que se dão no fracasso.
É no avanço de todas as nossas razões que mais retrocedemos em nossas emoções:
Porque quanto mais me queimo no gelo dessa sua indiferença;
Mais congelam meus sonhos o fogo dessa esperança!
Como estão escuros esses dias!
É por isso que só adormeço ao amanhecer.
Acredito que é na lembrança que nasce o verdadeiro esquecimento.
É na ferocidade temida que habita a doçura e a mansidão:
Porque quanto mais sonho, mais reais se tornam meus dias;
E porque quanto menos desenho, mais escrevo tuas curvas!
Muito serena é essa loucura!
É por isso que eu prefiro amar com a mente.
Acredito na retidão dos passos tortuosos.
É na quebra da moral imposta que emerge a ética da felicidade:
Porque meu amor não pode ser curado por outro amor;
Porque meu amor por ti é doença sem cura!