Dos cabelos, dos olhos
Para Kelly
A janela aberta apaga o cigarro e apaga os meus olhos, ela se vira e diz que eu devo abri-los porque são brasas
porque o cigarro entre seus lábios está apagado e os meus olhos vão o acender
como ela queria que eu fizesse com os seus dias agora sem as minhas malditas e cretinas piadas de quem
não tem muito o que perder nessa vida além dela e o emprego e
o dinheiro para a cerveja e para guloseimas, que ela odeia porque me deixa gorda e inerte
Mas o doce perfume dela do cabelo, do pescoço e das palavras
fica agora perdido nas minhas narinas
na poluíção da minha cidade mal estruturada
pequena demais para esse
grande e incontrolável e indominável carinho que eu sinto
(como o perfume e a pele delicada e o contorno suave do sorriso)
por ela
Que segura o cigarro entre os lábios e pede o isqueiro
e diz que cada vez que o faz, tragar e jogar para fora da janela
se lembra das vezes em que eu fazia o mesmo, e desconcertada
jogava as cinzas nos cabelos dela
que ainda estão cinzas
e assim vão ficar
como os meus olhos
castanhos.