Dos cabelos, dos olhos

Para Kelly

A janela aberta apaga o cigarro e apaga os meus olhos, ela se vira e diz que eu devo abri-los porque são brasas

porque o cigarro entre seus lábios está apagado e os meus olhos vão o acender

como ela queria que eu fizesse com os seus dias agora sem as minhas malditas e cretinas piadas de quem

não tem muito o que perder nessa vida além dela e o emprego e

o dinheiro para a cerveja e para guloseimas, que ela odeia porque me deixa gorda e inerte

Mas o doce perfume dela do cabelo, do pescoço e das palavras

fica agora perdido nas minhas narinas

na poluíção da minha cidade mal estruturada

pequena demais para esse

grande e incontrolável e indominável carinho que eu sinto

(como o perfume e a pele delicada e o contorno suave do sorriso)

por ela

Que segura o cigarro entre os lábios e pede o isqueiro

e diz que cada vez que o faz, tragar e jogar para fora da janela

se lembra das vezes em que eu fazia o mesmo, e desconcertada

jogava as cinzas nos cabelos dela

que ainda estão cinzas

e assim vão ficar

como os meus olhos

castanhos.

Katrina L
Enviado por Katrina L em 04/03/2009
Código do texto: T1469240
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