ANFITRIÃO DE ANTENORA

Não contente com o olhar que lançara distante

Quiseram, ainda, seus pés caminhar adiante.

Buscando o jardim que eterniza as flores

Como ouviu em história

Prendeu-se em rumores!

Oh, pobre poeta que só busca amores!

A beleza, ao cego, não mostra em cores!

Por um lugar que não havia pranto

Sem a noção exaltara:

- Eis ali o meu canto!

Era ainda criança, recriando a beleza

Por olhar de janela, não havia tristeza.

Não seria igual sob a gélida chuva

Quereria ser tal

Como água turva

Quereria ser barro, jorrar pelo ralo

Sentir-se mendigo em noite sombria.

O jardim eterno é uma cor que porfia

De onde veio ardor

Apenas dor havia

Eis o tom do silêncio nessa aquém estação

Onde à dor, sem saída,

Só resta o coração.

1º Nota: ANTENORA- A Divina Comédia; O lago congelado (9º Círculo do inferno, onde as águas do rio flagetonte congelam). Onde o sofrimento é maior. Pois, tendo as "almas", suas faces congeladas, e a dor buscando saída através de uma lágrima ou expressão de sofrimento e não encontrando saída (Pois, suas faces estão congeladas) retornam ao peito causando uma dor ainda maior. E assim eternamente. Este é o silêncio de ANTENORA! Não um silêncio de paz. No entanto, um dos momentos sublimes da poesia. O pranto reprimido da alma.

2º Nota: Outro dia li um texto ( Na coluna ilustrada da Folha de São Paulo), não me lembro o colunista, sobre a música de Shumann. Onde o autor, enquanto elogiava o grande compositor, observou uma considerável falta para a elevação da música de Shumann ao sublime: O sofrimento. Segundo o autor, faltara a ele a profunda aflição. O mesmo mal que afligiu vários dos grandes artistas.

Não sei se isto procede como verdade, pois conheço pouco da vida desse compositor. Mas, é interessante ressaltar a questão do sofrimento, da dor, tal como da alegria para elevar qualquer artista ao "patamar sublime". Terá Beethoven encontrado Deus, como buscara?

Confesso que me sinto nas nuvens quando ouço o coro em DIE FREUDE.