Mãos Amigas
Primeiro veio a luz,
depois, o fogo,
e tudo se entremeceu
nas trevas.
E levado pelo vento
escurecido,
pela respiração turva,
o céu se enobreceu
de densos chumaços.
E meu medo,
se tornou tão real
e passível,
sem belas-artes,
fluido de áspero
e lençol de carvão
zoado por enxofre,
fui envolvido
em dúvidas e artes.
Fui envolvido pelos desleais
de pátria sem nome
de avenidas sem número,
de casas esquecidas.
Foi então que me acheguei
aos meus brinquedos
de chumbo
e os chamei para outra
guerra
sem ásperas e dolosas
esporas.
Foi quando despertei
do sonho
de meia-noite,
e dela me aproximei;
beijei-a por sentimento.
E pensei num tempo
que dentro de mim existiu:
fogo e breu
me cobriam,
o fogo me atiçava,
até que encontrei
alguém que a cobrisse
em mel e pipoca-doce.
Sem meias déias,
foi quando ainda pequeno
perdi a quem não devia.
Perdi todas as mãos
amigas
e,de frente,
fui recitar
meus poemas
de guerra
numa creche sem passado,
e que me levou a um futuro
sem dias ou meses.
Lá onde se carrega
a dor nas costas
e o amor, o amor...
só dentro do coração
se alegra !