O olho

O olho espreita noite adentro

como um cão faminto

e tudo que encontra são sombras

de um futuro empoeirado,

um futuro cujo ismo Marinetti

não imaginava ver catalogado em museus

O olho reagrupa cada sombra,

tenta criar uma palavra, um verso

mas a ausência do outro olho e

a cegueira castra-o

A cidade vigia-o

por cima dos prédios,

pelos bueiros,

pelos becos escuros —

observa-o de prontidão,

com todas as sentinelas a postos,

com todos os seus mísseis

e armas voltadas

para a pequena ilha dele

E, apesar de cego, o olho

aprendeu que na falta

de uma das faculdades,

os outros sentidos,

sobretudo, o poético,

entram em ação

Ferido e perplexo, então, o olho

indaga ao mundo: quem és tu?

meu nome é ninguém, responde o mundo

O olho até gritaria

aos sete ventos que ninguém o feriu

porém, ele sabe o eco de sua voz

e prefere, por enquanto,

às margens,

contemplar a face da noite escura

antônimo
Enviado por antônimo em 02/03/2009
Reeditado em 21/02/2010
Código do texto: T1465427
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