POEMA PARA UMA CRISTALEIRA

De frente para as portinhas fechadas

a menina e o impasse em fechadura delicada

Os espelhos ao fundo alongam os sonhos

os brilhos

O mistério das taças cristalinas

borda a imaginação

evoca cenas de lugares longínquos

As xicarazinhas principescas em ciranda

envolvem uma garrafa de vinho Guaracy

Conjuntos incompletos

quebrados nas cenas temporais

A bonequinha de luxo toma conta

dos fantasmas do corredor

Dois copos altos no porta-copos de prata

conservam marcas do beijo mais desejado

Imóvel a cristaleira assiste às cenas

familiares

testemunha de segredos à meia-luz

Seus olhos de espelho espiam através

das ramagens

o relógio marcando a meia-noite

o presépio

o menino

as vaquinhas

Inundam-se de luz refletindo a estrela-guia

Um porta-retrato solene jura eternidade

Um elefante cheio de pedrinhas vermelhas

carrega os sonhos para o Oriente

O Sol

A Lua

O Verão

O Inverno

A Primavera

O Outono

A vida passa pela imóvel cristaleira

Aracaju, 12/05/2004