Poesia
E a poesia continua
Até que do rubro a rosa se baste
Ou o sol do fogo se cale;
O céu do azul se enfade
E o mar das vagas descuide.
A poesia então cessará
Quando a folha rejeitar a seiva
Quando a luz esquecer as estrelas
Quando a carne dispensar o sangue
E a lua acordar do sonho.
A poesia enveredar-se-á
Por todas as ruas dos sentimentos
Vielas da desilusão
Largos da felicidade
Esquinas da solidão.
Até que o amor
De beijos se reprima
Até que as cores, de tolice se desbotem
E a loucura, extenuada,
buscar os braços da lucidez.