Fugindo de casa
Me leve, tempo. Me leve...
Me leve pra bem longe daqui.
Destrua tudo que me faz chorar.
Me deixe abrir as janelas da minha casa
e gritar, gritar, gritar pra todo mundo ouvir.
Que eu não sou de ninguém,
não pertenço ao seu mundinho fechado,
cheio de medos e hipocrisia.
Me deixa ir embora...
Me deixa buscar aquilo que eu quero,
me deixa sair pelo mundo sem destino,
me deixa...
E, no final de tudo, encontrar meu amor
pra contar das coisas que vi,
dos lugares em que passei,
das lágrimas que chorei
e dos sorrisos que deixei.
A esperança é um laço... estou amarrada;
mas é fraco... posso desistir.
E aí, quem será forte o bastante
pra me fazer viver de novo?
Me leve, tempo, me leve...
que seja por rodas de vento
e que não demore a me tirar daqui.
Deixaremos as despedidas de lado...
estou indo embora, não quero nem saber.
Sairei de madrugada pra ninguém me ver.
Vou voar mais rápido que o pensamento
e, quando o sol bater em minha face,
não estarei mais em suas mãos.
Vamos, tempo, já é tarde...
Quero ver a vida lá fora.
Quero rir da minha própria desgraça
de ter nascido onde eu não queria.
Quero ir, antes que percebam...
E se eu sofrer,
que seja por minha própria culpa,
não por culpa dos outros, como foi até agora.
Quero estar distante quando tudo acontecer...
não vou me importar se sentirem
um peso enorme na consciência...
Já paguei meu erro antes de cometê-lo.
Já é tarde, devo ir embora;
me leve, tempo, me leve...
E não me deixe voltar.
Vou carregar comigo somente o sonho,
porque o desespero não cabe na mala.
As correntes estão sendo quebradas,
trabalhei muito nisso a noite passada.
Acho que vou pular a janela...
sair pela porta da frente é arriscado,
além de ser como pedir um pouco
da dignidade que não me deram...
Saindo pela janela não decepciono ninguém,
só estou sendo o que acharam que eu fosse.
Não se preocupem, vão ouvir notícias minhas...
estarei tão longe que não poderão me prender.
Livre como o vento...