SILENCIOSA AGONIA

Na calçada imunda, fétida e dura

Chora o menino, drogado, com frio

O corpo apodrecido e a alma pura

Pendurada apenas por um frágil fio

Buzinas, fumaça e gente apressada

Todos imunes à desgraça alheia

Muitos podem, ninguém faz nada

Menino-inseto debatendo-se na teia

Meio-dia... A fábrica apita

E apesar da dor lancinante

O guri não soluça nem grita

O fio se parte... Último instante...

Não é incômodo nem estorvo

Os anjos da morte cantam em coro

E arde doída no bico do corvo

Uma bituca molhada de Marlboro

Sigmar Montemor
Enviado por Sigmar Montemor em 28/02/2009
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